quinta-feira, 16 de julho de 2009

De Pai para Filha...

Não há ninguém como a Ana.

É uma pessoa de princípios, de uma palavra só e com um sistema de valores muito sólido e muito coerente. Age de acordo com eles, mesmo que isso a possa prejudicar.

Selecciona apuradamente os amigos e é da maior dedicação, fundando as suas relações na lealdade e na partilha. A maior parte das pessoas não lhe interessam e não faz o menor esforço para esconder isso ou para lhes agradar. Mas é muito amorosa para com quem gosta e, relativamente a esses, de uma disponibilidade total.

É determinada e lutadora. Uma vez tomada uma decisão, não hesita nem desiste. Tem conseguido praticamente tudo o que quis obter ou alcançar na vida. O «praticamente» é para salvaguardar a pequena margem que às vezes escapa à sua capacidade de controlo.

Gosta de mandar e por regra manda bem. Mas também sabe ouvir e é capaz de mudar de ideias se o outro tiver capacidade para a convencer. Curiosa, amiga de saber, interessada em progredir e valorizar-se, é senhora de uma cultura muito acima da média. Sabe bastante mais do que eu – o que é para mim uma grande satisfação.

Construiu com o Bruno uma relação muito carinhosa e muito sólida, assente em afectos e em princípios. Penso que se entendem bem, que, por serem bastante diferentes, se completam, que são solidários e que têm todas as condições para serem felizes e fazerem felizes os que hão-de vir.

O Bruno é uma pessoa admirável: pela sua postura, pela sua educação, pela forma como se construiu, pela sua dedicação à Ana e pela enorme capacidade de lidar com ela… Ele sabe que o estimo muito.

A Ana tem uma relação muito especial comigo. Sempre teve. E eu com ela. Conhecemo-nos bem e sabemos perfeitamente o lugar que o outro ocupa na nossa vida. É um lugar único e insubstituível e, por isso, muito precioso. Somos amigos sem reservas. Às vezes parece que temos a mesma idade, mas também assumimos os papéis de pai e filha nos momentos próprios. A Ana dá-me muitos conselhos que, por serem ajuizados, tenho em especial consideração e quase sempre sigo. Eu já lhe dei mais do que dou agora. São os mais sábios que devem aconselhar.

Adora irritar-me e às vezes consegue. E eu a ela. Nisso, como em muitos outros aspectos, somos bastante parecidos.

Com a mãe as coisas são diferentes porque a mãe não a atura como eu. Mas têm uma pela outra uma afeição sem limites e uma enorme cumplicidade.

Os sogros sempre trataram a Ana como filha e ela valoriza isso muito. Estou certo que será, igualmente, uma nora estimável.

Quando muito pequena, a Ana, que sempre foi uma doçura, era também um bocadinho redondinha. Uma vez, na praia, andava um vendedor ambulante a apregoar bolas de Berlim e a semelhança entre as ditas e a própria inspiraram o tratamento de Boli, uma espécie de sobrenome que lhe colou na perfeição e a acompanhou pela vida fora. Para nós há-de ser sempre Boli.

Era uma criança muito atenta, muito curiosa em relação a tudo o que a rodeava, muito interessada em saber. Fazia muitas perguntas. E adorava histórias ao deitar e um beijo do pai antes de adormecer. Ainda agora as ouviria se eu tivesse paciência para lhas contar e o beijo não o dispensa, em pessoa ou pelo telemóvel. Nem eu. Falamos todos os dias e damos toques como se fôssemos adolescentes.

Os netinhos são, obviamente, bem vindos. A vida só faz sentido com eles, porque é para diante que vai.


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